17 de julho
23:14
Sentado na cadeira, a amornar, como se estivesse a marinar numa panela, num bico a gás, tenho as costas vergadas com o peso de tanta rima fugaz por concretizar. Acabo de corrigir três poemas para partilhar nos dias que acenam. A janela, por cima da minha cabeça, está aberta por uma frecha, para que o ar entre, circule e limpe o contentamento da minha produtividade, de maneira que não pouse a caneta e cruze os braços, resignado com o até agora alcançado. O problema está nos grilos que, no jardim, me embalam com o seu trilhar. Ainda não descobri, de fonte segura, o seu método para fazer chegar até mim o seu ressonar. Talvez seja conduzido através dum fio que percorre o telhado, desde o relvado, e seja descarregado nos auscultadores onde ouço música. Mesmo com a culpa encavalitada nos meus ombros, a exercer tremenda pressão, vou guardar as rimas na gaveta. Se hoje me vieram bater à porta de boa vontade, amanhã ainda por aqui andarão à procura de serviço. Vou juntar-me aos grilos nos seus sonhos…