´tás a falar assério? IV
45:00
Tem sido interessante a experiência de escrever sob a pressão dos 45 minutos. Já antes escrevia, com um gozo tremendo, sobre os infortúnios dos demais, só precisava dos 45 minutos para justificar a publicação dos mesmos. Quanto mais tempo tenho para pensar neles, mais fatalista me torno. É melhor assim. Não tenho culpa de, sob pressão, me refugiar no azar alheio. Não fui eu que fiz os determinismos. Hoje não me tem surgido nada para escrever. Ainda assim, não me escapa o bichinho. Tenho estado especado a olhar pela janela, a ver se o acaso me oferece um tropeção na calçada, ou algo do género. Eu não o desejo (não sou um mostro). Espero - por aquilo que é a vida. Ela não é isso mesmo?, uma série de acasos, danados para fazer troça do pobre que por cá anda - e rico também - lá nisso, não há distinção de classes (é triste que boa parte da democracia esteja na desgraça). Sabendo-se que não se sabe bem o que se anda cá a fazer, é bom saber que ainda há alguém que quer brincar - nem que seja a fazer pouco das caras que por aí andam. Faço um esforço imenso para não me levar a sério, mas há dias que custam, especialmente, quando ainda não vi um azarado que me lembre que a batata quente também pode passar para o meu lado. Já percebi tudo! O meu apego ao azar alheio deve-se ao facto de querer alimentar a minha humildade. Devemos ser sempre sérios no nosso caminho! - mas já agora não passem por onde outro já tropeçou, é que pode estar com peçonha.
15:38