´tás a falar assério? LV - combinar coisas, enviados de Deus e absurdismo
45´
*Não gosto de combinar coisas. Não gosto porque me apetece desmarcá-las assim que digo até lá. É da minha natureza, estou bem comigo. Mas de vez em quando dá-me para convidar o tipo que já não vejo há meses. Telefono, chega-se a acordo entre a vontade de ambos, tudo com uma vontade desgraçada, mas assim que se desliga, porra, em que é que me fui meter?! Eu sou saudoso, aprecio a melancolia da saudade, a iniciativa acaba com ela. Não há nada mais belo do que a saudade, bastante dolorosa, diga-se, mas é uma dor que se supera tão bem com a cabeça pousada sobre a almofada, no quente dos lençóis, a um sábado à noite.
*Assusta-me um pouco ouvir falar do Destino ou da vontade de Deus (para mim uma só coisa, já que confiamos ao Segundo o primeiro) como força motora para a prossecução de uma função ou atividade. Mas isso até pega por estas terras lusitanas, com as manias da grandeza. Povo que ouvi, não caí no discurso desses aproveitadores do trabalho Divino, que se dizem enviados de Deus para fazer cumprir a Sua vontade e mudar o que está mal. Façamos um exercício de razoabilidade. Foi Deus que criou esta Terra, assim como todas as coisas visíveis e invisíveis, só descansando ao sétimo dia. Como tal, Ergueu estas fronteiras a que hoje chamamos Portugal e Criou este povo a que hoje chamamos portugueses. Fez-nos à Sua imagem. Com toda a sinceridade, perscrutai o coração e a razão, acreditais que Ele confiará a alguém a alteração da Sua obra? Seria uma afronta!, depois de toda a Sua dedicação. Ainda mais, neste país, como todos bem sabemos, mais vale prezar pela estabilidade das coisinhas como são, do que mudar o que quer que seja.
*Em puto, à falta de melhor entretém, e com a certeza de que pouco se faria para remediar a situação, pegava-se naquelas revistinhas que resumiam as telenovelas e coscuvilhavam a vida dos famosos para uns cortes e colas. De um lado tirava-se uma cabeça, doutro um tronco, de lá umas perninhas, desenhava-se um bigode, pintava-se uns dentes, juntando-se tudo num fundo paradisíaco qualquer. Quando se ia ver, criara-se uma super Cristina Ferreira toda bombada de peito, pernas de esparguete, decidida a resolver o crime nas Maldivas ou noutro destino qualquer que um pé descalço famoso escolheu para fugir à rotina de estúdio.
23´01´´
Resolvi voltar ao cortes e colas absurdista