´tás a falar assério? XXII – sobre o ócio
Boswell: O ócio é fatigante.
Johnson: Isso acontece, caro senhor, porque estando os demais ocupados, nos falta companhia; mas se todos fossem ociosos, nunca nos aborreceríamos; passaríamos o tempo a entreter-nos uns aos outros.
45:00
*Quando o gato se enrosca em cima dos cobertores, junto-me a ele. Não deixo que se fique a rir. Surge então uma competição silenciosa. Quem aguenta por mais tempo uma sesta? Quem consegue, depois de uma sesta, partir para outra (ou quantas mais)? Quem consegue manter por mais tempo a mesma postura, antes que a preguiça comece a formigar e haja a necessidade de a sacudir pela perna? Por muito bom adversário que seja, o título acaba por ficar no mesmo, nem que seja pelo incómodo de um bichinho carpinteiro que me martela a cabeça. O ter de ir fazer alguma coisa é o maior confronto corpo-mente a que estou submetido, mas luto.
Uso frequentemente deste meio para demonstrar o meu apreço pelo ócio. Tanto gosto dele, que tenho vindo a munir-me de literatura qualificada que justifica (e tranquiliza) a minha posição (relaxada, com um gin do lado). Faço minhas as palavras de Jerome K. Jerome, gosto do ócio quando não me é devido entregar-me a ele, não quando é a única coisa que tenho a fazer. Na mesma linha, Robert Louis Stevenson atira, imagino que a bocejar, o chamado ócio, que não consiste em não fazer nada, mas sim em fazer muitas das coisas não reconhecidas pelas formulações dogmáticas da classe dominante, tem tanto direito a afirmar a sua posição como o próprio trabalho. Traduzindo para a minha língua, manda cagar, amanhã já é segunda e já voltas à rotina. Já agora, não te esqueças de organizar, antes de te ires deitar, uns papéis para a apresentação de amanhã. Qualquer coisa, metes o despertador para cinco minutos mais cedo. Deito-me de bem com a consciência quando tenho por onde escolher e escolho fazer amanhã. Gosto de me sentir desejado. Dou-me ao luxo de negar o meu amor pelo trabalho, sabendo eu que ele se curva a meus pés quando bem me apetecer.
08:26
Josip “Tito“ Broz e Nikita Khrushchev descontraindo num cruzeiro no Adriático, apesar das tensões políticas.