´tás a falar assério? XXIII – lembro-me de
Ao escrever “lembro-me”, ou “lembro-me de”, o “eu” liberta as suas memórias (abre as suas gavetas?, as torneiras?, os diques?), memórias que talvez lhe ocorressem automaticamente mas que são suscitadas por um mecanismo verbal. A questão do automatismo não é de somenos: aquilo que cada fragmento diz a seguir ao “lembro-me” tanto pode ser imediato como laborioso; no entanto, quem lê fica com a ideia de que basta dizer “lembro-me” para que alguém se lembre de alguma coisa, como num confessionário ou num divã.
Pedro Mexia
45:00
*Volta e meia, em fuga do presente, lembro-me de me refugir no que já escrevi e até aí venho de lembranças. Não me recordo de nada que fizesse impressão ao nervo. Gosto do estilo, dos temas, apesar de volta e meia me questionar, onde é que te lembraste de ir buscar estas coisas? Surtos de adolescência.
Apesar de muito me lembrar, saudoso, e de lá voltar sem questão, nunca fiz por guardar por escrito a infância. Volto lá agora, lembrando-me de uma das suas boas coisas, o Computador Magalhães. Um companheiro de guerra. Pequeno, compacto, mas muito trabalhador, que se sujeitava a duros trabalhos de redação e de pintura. Mesmo exausto, divertia-me com o Super Tux, um joguinho cópia-barata do Super Mário.
Felizmente, a amizade alia-se aos conhecimentos, um conhecido que sabe, que sabe de algo, ou que sabe de alguém. No meu caso, munia-se de uma pequena PEN, em que estavam presentes as mais recentes novidades capazes de serem rodadas por um computador paupérrimo de recursos, mas rico em sonhos.
Se bem me lembro, não podíamos ficar nas salas durante os intervalos. Ainda assim, por meio de uma dispersão qualquer, lá se vinha a reunir o grupo, a um canto, amontoados uns nos outros, a ver jogar aquele prodígio que passava os níveis cagativamente.
07:02
O meu mais sincero agradecimento ao Engenheiro José Sócrates por me fazer lembrar.